sexta-feira, 22 de abril de 2011

Rádio days - Os anos dourados do rádio por Woody Allen


Até a chegada da televisão, o rádio foi o pioneiro no entretenimento doméstico, alcançando seus anos dourados em meados das décadas de 30 e 40, onde os programas de auditório, novelas, seriados policiais e as grandes canções eram transmitidas por meio deste veículo de comunicação que reunia toda a família em torno de si. É em torno desta realidade que Woody Allen produz um de seus trabalhos mais belos, intitulado Radio days.

Produzido em 1987, Radio days (ou A era do rádio, como é chamado aqui em terras brasileiras) apresenta Woody Allen como o narrador, em voz off, que se debruça em uma profunda nostalgia, apresentando a sua infância na figura de um personagem que vive num subúrbio envolvido ao glamour dos programas de rádio, e em meio ao mundo em período da Segunda Guerra. Integrante de uma agitada família de judeus, o garoto passa pela experiência de observar cada integrante e suas respectivas experiências com a sedução que as programações radialísticas proporcionavam.

O diretor explora desde o princípio do filme a intensa relação do indivíduo com o meio de comunicação mais influente da época; o longa inicia com um assalto domiciliar, onde uma dupla de invasores são surpreendidos com uma ligação dentro da própria casa. Ao atender, encontram-se em meio à participação de um programa de auditório exibido via rádio. Neste exato momento, os bandidos esquecem seu “trabalho” e se entregam à adrenalina da participação do jogo de perguntas e respostas que concorrem a prêmios. Woody Allen conduz o espectador por meio de seu roteiro que, de uma maneira cômica, explora o contato do homem com o principal meio de comunicação de massa. O rádio é o personagem principal do filme; é ele quem determina as reuniões de família, é com ele que a figura masculina se comunica, por meio dos programas de esportes, assim como a mulher diante às radio novelas, ou os casais perante os conselhos amorosos e as garotas jovens que se deleitam à sedução dos cantores e suas belas vozes.

Woody Allen não deixa de relacionar às suas memórias eventos veiculados pelo rádio durante a Segunda Guerra Mundial. Ele como garoto americano ouviu muitas histórias da guerra e a participação de seu país. Foi pelo rádio que todos os americanos ouviram do presidente a entrada da nação na guerra. Algumas das “histórias” anunciadas procuravam apresentar os alemães e japoneses como vilões. Era pelo rádio, também, que todos tomavam conhecimento do número de soldados mortos e feridos, as batalhas vencidas e perdidas e muitos outros fatos. É perceptível a mudança da programação dos programas após o atentado de Pearl Harbor, dando prioridade às vinhetas de caráter político, enaltecendo o poderio norteamericano perante o mundo, bem como recrutando jovens para o serviço militar.

O filme – além de apresentar um cenário que remete o espectador à vida dos grandes centros norte americanos, conduzindo às iluminadas noites das grandes festas e eventos culturais, capricha também, em sua trilha sonora, privilegiando as canções famosas daquela época. O Brasil, inclusive, é representado pela da atriz Denise Dumont, que atua numa ponta como uma cantora latinoamericana interpretando a cancã “Tico-tico”, e pela cena onde os personagens dançam South american way, da Carmen Miranda. Diana Keaton aparece belíssima, cantando You'd be so nice to come home to.

Radio days é um filme encantador, que possui uma sincronia entre o cômico e o drama dos personagens na busca pela fama, pelo amor eterno, e pelas experiências da infância diante de uma sociedade que buscava esquecer as tensões de uma conjuntura absorvida pela Guerra. Woody Allen se mergulha no personagem que é o alterego de sua infância, e recolhe os fragmentos de suas memórias enaltecidas pelos anos dourados dos programas de rádio.

Nota: 5/5

A era do rádio

Título original: Radio days

Ano: 1987

Direção/Roteiro: Woody Allen

Elenco:

Martin Rosenblatt

Helen Miller Julie Kavner

Julie Kurnitz

David Warrilow

Seth Green

Michael Tucker

Josh Mostel

Renée Lippin

Trailer

2 comentários:

Cristiane Costa disse...

Oi Clyde,
Parabéns pelo blog! Adorei o seu texto e você escreve super bem. Eu não assisti ainda Radio Days, mas pela sua resenha, fiquei curiosa de ver o efeito do rádio sobre as pessoas. O rádio perdeu tanto espaço para a pobre televisão hoje em dia, que esse filme de Woody Allen deve provocar um certo saudosismo de como essa forma de comunicação é uma das melhores do mundo.

Bj
MaDame Bonnie

Alexandre Alves disse...

Oh, minha encantadora Bonnie, suas palavras são encantadoras. De fato, Woody Allen nos conduz, por intermédio deste filme, a experiências não vividas, compartilhando conosco de seu sentimento nostálgico.
O filme é lindo. Divertido e comovente.