
A poesia mata, rasga a carne, mas não dói; você não se dá conta da tortura, uma vez que se apaixona por aquilo que lê... Como o cianeto, ou uma bala na testa.
Já se passou um bom tempo, desde que prometi produzir um comentário acerca do filme Tabu (Twelhead/Nothing is private). Devido aos contratempos (universidade, trabalho, vagabundagem e preguiça), acabei emperrando o mesmo, deixando sempre pra mais tarde.
Bem, justificativas à parte, venho dizer que o filme é uma visão acerca das descobertas da sexualidade, para uma adolescente e seus conflitos com uma educação moralista. O filme, baseado no romance polêmico da Alicia Erian, narra o drama de Jasira, uma garota que chega ao fim da infância, batendo às portas da adolescência; o contexto do filme gira em torno do período de guerra no Iraque, onde a garota mora com a mãe americana (interpretada pela atriz Maria Bello) e seu futuro padastro que possui um encantamento pelo amadurecimento precoce da adolescente, sobretudo nos aspectos hormonais. Diante de um desentendimento, a própria mãe entrega a guarda da filha ao pai (interpretado pelo Peter Macdissi), um rígido libanês que reside no Texas. Jasira passam então, a viver diante às regras opressoras da figura paterna, apoiadas nos valores morais da religião mulçumana.
Perante tal convivência, a personagem não encontra uma educação voltada à sua sexualidade, nem como entender tais descobertas voltas às pulsões sexuais, ao seu corpo e como lidar com ele. Uma garota ingênua, muito bem interpretada pela atriz Summer Bishil, dentro de um corpo de mulher, o qual chama atenção de homens, dentre eles o seu vizinho, um soldado da marinha. Faz parte do elenco, também, a atriz Toni Collete, que mantém o papel de uma dona de casa, em gestação, que se oferece como porto seguro para a Jasira.
O filme de desenrola entre conflitos que afligem a garota, seja na escola, através de insultos e agressões, verbais e físicas, sofrida pelos outros colegas, devido a sua origem étnica (por isso o nome Towelhead, tumbante); conflitos gerados no convívio entre ela e seu próprio pai, onde ela passa por um processo de abandono dos costumes liberais, para uma vida voltada à dominação masculina, dentro da própria casa; e consigo mesma, onde ela não consegue lidar com transformações em sua vida, com seus compulsivos sentimentos sexuais pelo vizinho (interpretado pelo ator Aaron Eckhart), e a descoberta do amor.
Em minha opinião, um filme interessante. O espectador se prende ao dilema da garota Jasira; a interpretação da atriz proporciona uma empatia com o sofrimento da garota e seu medo diante da figura paterna. O filme contém um roteiro simples, direto. A conjuntura na qual o filme se apega retrata conflitos étnicos, bem representados pelos atores, sobretudo o clima tenso entre o pai da garota, mulçumano, e o seu vizinho que sempre aponta os mulçumanos como terroristas (há um momento do filme em que o personagem do Peter Macdissi procura mostrar maior patriotismo que o próprio vizinho, que é natural dos Estados Unidos). Algumas cenas norteiam, na minha interpretação, a sinais de dominação norte-americana para com outros povos, conforme a cena do contato íntimo entre o vizinho militar e Jasira.
Enfim, é um filme que vale a pena conferir. Depois do clássico de Stanley Kubrick, Lolita, é um filme que indico. Garimpar este filme na locadora me proporcionou um bom momento; gostei, valeu à pena. Deu vontade de assistir novamente rsrsrs. Enfim, tenham acesso e tirem suas próprias conclusões.
Trailer do filme:
Mais uma vez, depois de mais um longo tempo de abandono, retorno a este blog. A necessidade de por para fora o que lhe vem em mente é forte em qualquer indivíduo; no meu caso, esta é tensa, e intensa. Adjetivos próprios do substantivo “necessidade”.
No entanto, desde ontem pensava e pensava em que deveria postar. E postei um poema de Brecht.
Num emaranhado de (in) satisfação, não encontrava um ponto de partida (típico daqueles que são agitados e que se perdem no momento em que se entregam à calmaria), e me encontrei diante dum blog que havia “perdido” a sua identidade. Tenso, passei tempo no twitter, gastando 140 caracteres com distrações.
Voltei ao blog.
Mudei o layout. Ficou até bonito.
Olhei pra ele, ele me olhou... E pensei em mudar o título, o qual há muito tempo permanece. Mas o mesmo dito cujo me deu luz.
“A fera que gritou no coração do mundo”; título que não é de autoria minha, e sim do episódio final do anime Neon Genesis Evangelion. Título que soa como um despertar humano. Gritos são manifestações e estes, em sua maioria, são desorganizados, aleatórios (peça a uma multidão de crianças para que gritem seus nomes de uma só vez), e com significado. Gritamos por dor, raiva, prazer, felicidade, desespero, euforia, glória. E, percebe-se que, após gritarmos, berrarmos, urrarmos, o sossego nos domina, e nos mantemos com os pés fixos ao chão.
E encontramos tudo isso na literatura, no cinema, na música, no humor, nas filosofias de boteco, nas nossas reflexões acerca da vida, da política, das contradições religiosas. Homens e mulheres: feras que berraram, gritaram e se transcenderam. Sim, gritar é transcender-se.
Enfim, percebi que o blog não perdeu o seu ponto de partida. Ele está aí, como um espaço onde continuarei a manifestar minhas reflexões, gritos internos. Não possuirá, assim como nunca possuiu, um tema exclusivo. Política, música, cinema, viagens (esta, há muito tempo adiada): minhas paixões. Como todo grito, elas fluirão aleatoriamente.
“Se há direito ao grito, então eu grito.”
- Clarice Lispector.