terça-feira, 27 de julho de 2010
"No meio do caminho tinha uma pedra ...

... tinha uma pedra no meio do caminho." (Drummond). E essa mesma pedra, que poderia juntar-se à coleção para fazer meu castelo, joguei no lago, por onde caminhava em suas margens.
Há tantas pedras, quanto há pessoas neste mundo; e sentado numa pedra, tomei um longo gole de rum. Por um segundo, não senti o frio gelado, mas uma onda de calor, inebriante e viciada, que tomava conta de mim.
Frio... sensação que suplica um aquecer. Calor, sentimento resultado de um aconchego. Saimos do útero quente, para sentir o cortante frio, do mundo exterior. De um calor materno o homem se liberta, para abraçar o mundo frio, e para decidir em qual temperatura manterá seu coração.
De tantas pedras que lancei, de tantos goles de inebriei, calores e frios que senti, fiz de minha vida uma travessia para outra margem.
quinta-feira, 22 de julho de 2010
Smile
Tradução
Anyway...
Mais uma vez, depois de mais um longo tempo de abandono, retorno a este blog. A necessidade de por para fora o que lhe vem em mente é forte em qualquer indivíduo; no meu caso, esta é tensa, e intensa. Adjetivos próprios do substantivo “necessidade”.
No entanto, desde ontem pensava e pensava em que deveria postar. E postei um poema de Brecht.
Num emaranhado de (in) satisfação, não encontrava um ponto de partida (típico daqueles que são agitados e que se perdem no momento em que se entregam à calmaria), e me encontrei diante dum blog que havia “perdido” a sua identidade. Tenso, passei tempo no twitter, gastando 140 caracteres com distrações.
Voltei ao blog.
Mudei o layout. Ficou até bonito.
Olhei pra ele, ele me olhou... E pensei em mudar o título, o qual há muito tempo permanece. Mas o mesmo dito cujo me deu luz.
“A fera que gritou no coração do mundo”; título que não é de autoria minha, e sim do episódio final do anime Neon Genesis Evangelion. Título que soa como um despertar humano. Gritos são manifestações e estes, em sua maioria, são desorganizados, aleatórios (peça a uma multidão de crianças para que gritem seus nomes de uma só vez), e com significado. Gritamos por dor, raiva, prazer, felicidade, desespero, euforia, glória. E, percebe-se que, após gritarmos, berrarmos, urrarmos, o sossego nos domina, e nos mantemos com os pés fixos ao chão.
E encontramos tudo isso na literatura, no cinema, na música, no humor, nas filosofias de boteco, nas nossas reflexões acerca da vida, da política, das contradições religiosas. Homens e mulheres: feras que berraram, gritaram e se transcenderam. Sim, gritar é transcender-se.
Enfim, percebi que o blog não perdeu o seu ponto de partida. Ele está aí, como um espaço onde continuarei a manifestar minhas reflexões, gritos internos. Não possuirá, assim como nunca possuiu, um tema exclusivo. Política, música, cinema, viagens (esta, há muito tempo adiada): minhas paixões. Como todo grito, elas fluirão aleatoriamente.
“Se há direito ao grito, então eu grito.”
- Clarice Lispector.