terça-feira, 27 de julho de 2010

Encerrando meu acordar, na madrugada, uivando o meu pavoneio de um vira-lata.

"No meio do caminho tinha uma pedra ...




... tinha uma pedra no meio do caminho." (Drummond). E essa mesma pedra, que poderia juntar-se à coleção para fazer meu castelo, joguei no lago, por onde caminhava em suas margens.

Há tantas pedras, quanto há pessoas neste mundo; e sentado numa pedra, tomei um longo gole de rum. Por um segundo, não senti o frio gelado, mas uma onda de calor, inebriante e viciada, que tomava conta de mim.

Frio... sensação que suplica um aquecer. Calor, sentimento resultado de um aconchego. Saimos do útero quente, para sentir o cortante frio, do mundo exterior. De um calor materno o homem se liberta, para abraçar o mundo frio, e para decidir em qual temperatura manterá seu coração.

De tantas pedras que lancei, de tantos goles de inebriei, calores e frios que senti, fiz de minha vida uma travessia para outra margem.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Só mesmoo bom David Gilmour para me trazer uma canção introspectiva. Chama-se "Smile", de seu álbum solo "On an island":

Smile

Would this do to make it all right
While sleep has taken you where I'm out of sight
I'll make my getaway
Time on my own
Search for a better way
To find my way home to your smile

Wasting days and days on this fight
Always down, and up half the night
Hopeless to reminisce through the dark hours
We'll only sacrifice what time will allow us
You're sighing...

All alone though you're right here
Now it's time to go from your sad stare
Make my getaway
Time on my own
Leaving's a better way
To find my way home to your smile

Tradução

Isso faria tudo ficar bem?
Enquanto o sono toma conta de você e eu estou fora da sua vista?

Eu farei minha partida
Escolherei minha própria hora
Procurarei a melhor forma
De achar o caminho para casa, para o seu sorriso

Gastando dias e dias, nessa briga
Sempre pra baixo, mas alegre metade da noite
Sem esperanças ao se entregar às lembranças através das horas negras
Nós só sacrificaremos o que o tempo nos permitir
Você está... suspirando, suspirando

Totalmente sozinho, embora você esteja bem aqui
Agora é a hora de sair desse seu triste olhar penetrante

Ir embora
Escolher à minha própria maneira
Partir é a melhor forma
De achar o caminho para casa, para o seu sorriso


Anyway...

Mais uma vez, depois de mais um longo tempo de abandono, retorno a este blog. A necessidade de por para fora o que lhe vem em mente é forte em qualquer indivíduo; no meu caso, esta é tensa, e intensa. Adjetivos próprios do substantivo “necessidade”.
No entanto, desde ontem pensava e pensava em que deveria postar. E postei um poema de Brecht.

Num emaranhado de (in) satisfação, não encontrava um ponto de partida (típico daqueles que são agitados e que se perdem no momento em que se entregam à calmaria), e me encontrei diante dum blog que havia “perdido” a sua identidade. Tenso, passei tempo no twitter, gastando 140 caracteres com distrações.

Voltei ao blog.

Mudei o layout. Ficou até bonito.

Olhei pra ele, ele me olhou... E pensei em mudar o título, o qual há muito tempo permanece. Mas o mesmo dito cujo me deu luz.

“A fera que gritou no coração do mundo”; título que não é de autoria minha, e sim do episódio final do anime Neon Genesis Evangelion. Título que soa como um despertar humano. Gritos são manifestações e estes, em sua maioria, são desorganizados, aleatórios (peça a uma multidão de crianças para que gritem seus nomes de uma só vez), e com significado. Gritamos por dor, raiva, prazer, felicidade, desespero, euforia, glória. E, percebe-se que, após gritarmos, berrarmos, urrarmos, o sossego nos domina, e nos mantemos com os pés fixos ao chão.

E encontramos tudo isso na literatura, no cinema, na música, no humor, nas filosofias de boteco, nas nossas reflexões acerca da vida, da política, das contradições religiosas. Homens e mulheres: feras que berraram, gritaram e se transcenderam. Sim, gritar é transcender-se.

Enfim, percebi que o blog não perdeu o seu ponto de partida. Ele está aí, como um espaço onde continuarei a manifestar minhas reflexões, gritos internos. Não possuirá, assim como nunca possuiu, um tema exclusivo. Política, música, cinema, viagens (esta, há muito tempo adiada): minhas paixões. Como todo grito, elas fluirão aleatoriamente.

“Se há direito ao grito, então eu grito.”

- Clarice Lispector.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Brecht


Não aceiteis o que é hábito como coisa natural,
pois em tempo de desordem sangrenta,
de confusão organizada, de arbritariedade
consciente,
de humanidade desumanizada,
nada deve parecer natural
nada deve parecer impossível de mudar.