quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Deixa ela entrar (2008)
















Nos últimos anos, o tema “vampiros” e suas seduções se tornaram febre em seriados, desenhos animados, best-sellers e filmes. Uma construção de um mundo de seres noturnos que passam a interagir com os humanos, ingerindo seu sangue e seu prazer, passa a construir uma geração nova de fãs deste tema- podendo citar como exemplos séries como True Blood, Vampire Diaries e, especificando o universo cinematográfico, a saga Crepúsculo, que tem arrebatado uma legião de seguidores das mais variadas idades.

Diferente do que tem sido exposto nos últimos tempos, Deixa ela entrar é um trabalho inovador, envolvente, unindo o roteiro do John Ajvide Lindqvist (quem escreveu um livro de mesmo título) a Tomas Alfredson, quem dirigiu o filme. Deixa ela entrar, assim como outros filmes, possui uma história que gira em torno de uma relação entre um vampiro e um humano; mantém a mesma proposta da aproximação entre a morte e a vida, a sede pelo sangue humano, e as relações de sentimentos diante das realidades opostas que cada um experimenta. O que torna o filme especial e cativante pelo público que o assistiu é a maneira de como a trama é direcionada, e como os constantes toques de drama que se concentram no universo dos personagens são explorados, sem excluir o suspense contido.

O filme se passa em Estocolmo, na década de 80. Oskar, personagem interpretado pelo jovem ator Kåre Hedebrant, é um garoto de doze anos, que convive com sua mãe num subúrbio. Extremamente tímido e sem amigos, é vítima de bullying por seus colegas de escola, dos quais ele nutre uma sede de vingança. Seu passatempo é buscar recortes de cenas de crimes, encontrados em jornais e revistas. À noite, enquanto ele está no parque, ele se encontra com sua vizinha Eli (personagem da Lina Leandersson), uma garota que possui a mesma idade que ele. Apesar da neve, e do frio, a jovem se encontra de pés descalços, e com pouco agasalho, o que leva Oskar a perguntar se ela não sentia frio. Ele não sabia que ela era uma vampira.

A princípio, o primeiro contato entre os dois personagens demonstra uma frieza por parte de Eli, a qual julga impossível uma relação de amizade entre os dois. No entanto, a tentativa do Oskar em se aproximar dela mostra o quanto ambos são seres solitários e que precisam um do outro. Eli encoraja constantemente o fraco Oskar a se revidar diante dos momentos em que este é humilhado por seus inimigos; demonstra que está ao seu lado, sentindo uma reciprocidade da parte dele, nutrindo na garota o medo dele descobrir o seu segredo e perder o amor que construiu por ela. A relação de amizade e de sentimentos mais fortes no decorrer do filme é construída de forma singela, como é comum entre as crianças que se conhecem pela primeira vez, tornando o filme livre dos clichês voltados a produções desta temática.




Deixa ela entrar é uma produção ousada, o qual oferece ao espectador uma história vinculada à transição da infância para a juventude, num universo do drama e suspense que permeiam os relacionamentos mais obscuros.

Nota: 9,5

Filme: Deixe ela entrar.

Título original: Låt den rätte komma in.

Ano de Produção: 2008.

Direção: Tomas Alfredson.

Roteiro: John Ajvide Lindqvist.

Elenco: Kare Hedebrant, Lina Leandersson, Peter Carlberg, Per Ragnar, Karin Bergquist, Henrik Dahl.


Trailer:







terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Black Swan



Darren Aronofsky é considerado um dos grandes diretores do cinema contemporâneo. Famoso através de seus filmes, os quais sempre retratam uma viagem ao âmago humano, assim como os perigos, e revelações obscuras que estes são capazes de esconder (lembremos de “Pi”, “Requiém para um sonho”...), o cinema produz em 2010 “Black Swan” (Cisne Negro), um filme dirigido por Aronofsky que remete a uma série de discussões, consagrado em premiações do cinema, entre elas a previsível indicação ao Oscar 2011.

O Balé e o cinema

Como o próprio nome diz, Black Swan é uma produção cinematográfica inspirada na famosa peça de balé intitulada “O Lago dos cisnes”, escrita pelo russo Tchaikovsky. A história da peça aborda a vida de uma jovem pura a qual foi vítima de uma maldição onde passaria a viver perpetuamente no corpo de um cisne; tal maldição só se quebraria caso um jovem de bom coração se apaixonasse pela mesma. Surge este jovem, um príncipe, que poderia libertá-la, no entanto este se apaixona pela irmã gêmea da vítima, que seduz o príncipe com sua beleza e malícia. Não encontrando outro sentido, a jovem - que fora abandonada pelo príncipe confuso e seduzido, busca na morte o seu refúgio.

É basicamente nestes elementos de encantamento, medo e crises presentes nessa obra, que Aronofsky abraça e dirige o filme Black Swan. Natalie Portman protagoniza a obra, vivendo até as suas entranhas o papel da personagem Nina, uma jovem frágil que se dedica às aulas de balé e deseja os cobiçados papéis dos Cisnes Branco e Negro na peça O Lago dos Cisnes, dirigido pelo personagem de Vincent Cassel. Conquistando este papel, através da substituição da personagem da Winona Ryder, Nina passa a mergulhar no universo de seus personagens.

Nina é um personagem frágil que, embora já tenha uma idade consideravelmente adulta, vive em torno da educação materna de uma ex bailarina, que faz da jovem uma espécie de prisioneira de uma redoma, coberta por uma infantilidade exacerbada. Além destas prisões Nina ainda vive sufocada num cárcere que ela mesma criou, por meio da flagelação de seu próprio corpo, sendo por práticas de bulimia, ou por pequenas retalhações em seu corpo, construindo uma paranóica sede de alcançar a perfeição e controle de seus movimentos, o que lhe permite viver perfeitamente o frágil e assustado Cisne Branco, mas não alcança a liberdade de viver a astúcia, a malícia e a sensualidade do Cisne Negro. A fim de alcançar a empatia com o tal personagem, seu diretor a propõe a explorar o seu corpo e a descobrir os prazeres de sua própria sexualidade.

“Tudo foi perfeito”

Aronofsky sustenta em Black Swan a característica intrínseca de seus filmes onde o principal objetivo é revelar o medo e os desejos mais profundos e intensos presentes em seus personagens. Aos poucos, o mundo de Nina passa a se distorcer em diversos momentos em que ela não mais consegue discernir o que é real e o que é fruto de sua mente – tal confusão atinge, também, aos espectadores que mergulham no mundo criado por Aronofsky. O desejo intenso de alcançar a perfeição de interpretar o Cisne Negro lhe causa um pânico em ser substituída, sobretudo pela sedutora dançarina Lilly, interpretada pela atriz Mila Kunis, a qual é bem vista pelo diretor como dançarina capaz de vivenciar o Cisne Negro.

Essas são as vias que Aronofsky toma, para criar um universo de suspense, explorando o espaço paranóico construído pela protagonista que, a principio era uma jovem dócil, e que se converte, em doses homeopáticas, numa garota perturbada que se vê ameaçada pela academia de dança, por Lilly, por sua mãe e por si mesma a vivenciar com perfeição o seu papel. Outra característica no filme é a forma como Aronofsky leva o expectador a viver com a Nina os momentos de suspense e de paranóia em torno do filme. Vale ressaltar, também, a exploração do diretor em torno da interação entre os personagens: a relação entre a Nina e o seu diretor da academia; entre a protagonista e a sua mãe, que introduz na filha a sua frustração por não ter alcançado uma carreira promissora no balé, garantindo à filha um rótulo de pureza, retirando sua privacidade e as vivências naturais da fase adulta (basta observar o próprio quarto da Nina); e as cenas de interação (aham!) entre Nina e Lilly, desde os momentos de ensaio bem como a forma que Lilly encoraja a protagonista a desafiar a doentia proteção de sua mãe, permitindo que a doce garota vá desaparecendo aos poucos de seu cotidiano.

Os momentos de clímax do filme é o que mais atinge as emoções do espectador que mergulha na trama, entrando em choque as distorções de realidade, de tempo e espaço, onde os cenários repletos de espelhos são grandes responsáveis por isso. Nina, em vários momentos encontra consigo mesma, onde as sombras e seu reflexo revelam o seu outro lado. Os momentos finais do filme são o ápice da crise de Nina e as ações que ela toma determinam a sua atuação com os Cisnes Branco e Negro.

Black Swan faz o público confirmar que Natalie Portman é uma das melhores atrizes do cinema atual e, interpretar sua personagem em quatro estágios de espírito (como a Nina dócil, a Nina obscura, o Cisne Negro e o Cisne Branco), revela que é uma atriz capaz de se doar perfeitamente a quaisquer personagem que abraçar, revelando a duplicidade de vivenciar o dócil e sedutor. Ganhadora do Globo de Ouro de 2011 e do SAG Awards 2011, a atriz é indicada a concorrer ao Oscar 2011 na categoria de melhor atriz, e sendo uma das grandes apostas do público que a admira. A Milla Kunnis também se mostra como uma ótima atriz na produção, vivendo uma antagonista que desequilibrou a mente da Nina, embora a sua personagem nunca revelasse intenções de prejudicar a oportunidade da protagonista, e sim, levá-la a experiências de um desapego de necessidades de autocontrole.

Enfim, Black Swan é uma produção que mostra Aronofsky capaz de surpreender, mais uma vez, com um trabalho que mergulha o expectador no medo, nos sentimentos intensos e nas profundezas de seus personagens. É um conselho a permitir que o nosso lado sombrio seja conhecido, para não ser traído pelo mesmo.

Nota: 10,0.

Filme: Cisne Negro

Título Original: Black Swan

Roteiristas: Mark Heyman, Andres Heinz, John McLaughlin.

Ano: 2010.

Genero: Drama, Suspense.

Elenco: Natalie Portman, Mila Kunis, Vincent Cassel, Barbara Hershey, Winona Ryder, Benjamin Millepied, Ksenia Solo.

Duração: 108 minutos.

Confira ao trailer: