sábado, 31 de janeiro de 2009

Teimosia

Só quando a vida pára
E o tempo se distrai
Do momento que vai
Do grito ouvido ao vidro estilhaçado

É que eu paro ao teu lado e nós trocamos
Vidas perdidas por horas roubadas

(...)

A sorte não dá para todos
Mas não escolhe a quem falta
De um lado tem maré alta
Do outro praia de fora

(...)

Entre o grito e o estilhaço
Cabe outra vida na vida
Outro mundo entre meus braços

Que teimosia
Nada nos une, tudo nos separa

(Trecho da música "Teimosia", do grupo Casuarina)
Cansado e sozinho vaguei na multidão. Entre os semelhantes, alguns sorrisos, cumprimentos e papos.
É meio dia e um grupo pessoas caminha pela alameda.
Estas se misturam a mais outro grupo que se encontram (e se esbarram) na praça 09 de Novembro.
Jovens, crianças, idosos, casais, hippies, células, átomos.
Se encontram, se entreolham, observam as divergências em suas vestimentas, em seus andares.
Alguns olhares são camuflados em lentes escuras; outros ignoram a presença dos outros através do celular ou do mp3.
Não procurei imaginar nada, tampouco me prendi em pensamentos.
Uma multidão que se isola; vivem apenas no mero espaço particular.
A linha imaginária que se cria nada mais é para proteger a sua existência daqueles que respiram do mesmo ar.
E até o terminal se dirigiu o indivíduo que se perdera na multidão, buscando um momento de solidão.


sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

A maravilhosa arte da Prolixidade e a instantaneidade de Dercy


Passagem etérea...

...confesso-me estarrecida com tamanha prolixidade de certos autores sagazes que bem sabem fazer uso dos vocábulos e seus pressupostos, a fim de dar ênfase ou somente conseguir incrementar a postulação de um texto longo e enfadonho!

Não tive a paciência necessária à uma prolixa veemente, de ler e tentar captar as mensagens subliminares ou mesmo as explícitas em tantos longos posts escritos e lançados ao meu olhar crítico, mas adentrei no interessante e hilário concurso, tendo em vista que ultimamente tenho pecado quanto à leitura de bons e inenarráveis compêndios de sabedoria, usando meu tempo em pequenos prazeres passageiros que se costuma acreditar imcrementam as tão esperadas férias ... assim, não tenho lançado mão de boas leituras, o que restringe sobremaneira meu parco vocabulário e, por isso, estou, no momento, tendo que refletir muito para não fazer algo medonho como socorrer-me num Aurélio ou, quiçá, plagiar dignos pensadores que, mesmo nas férias, deixaram seus manuscritos em forma de grossa reunião de folhas ou cadernos, cosidos ou por qualquer outra forma presos por um dos lados, e enfeixados ou montados em capa flexível ou rígida, obras literárias, científicas ou artísticas que compõe, em regra, um volume, bem visíveis em suas cabeceiras noturnas..

É de muitíssimo bom grado que engajo-me nesse projeto, não sem antes prestar minha homenagem à mente brilhante que concretizou tal intento, já que a concisão abre espaço na contemporaneidade, tendo em vista que paulatinamente os homens tê-se desvencilhado dos bons e interessantes vocábulos, dando-lhes a pejorativa alcunha de "arcaicos"...

Acho que arcaísmos são as mentes envelhecidas que não primam um bom texto, milimetricamente elaborado, com sobrecargas de metaforismos e dualidade que impôe ao bom leitor, desvendar o que há por trás das meras palavras lançadas ao papel.

Ser prolixo é inspirador, uma vez que tantas coisas cabem num texto que fica difícil aceitar que a concisão consiga passar ao leitor tudo o que povoou a mente mirabolante do bom autor, que pode fazer uso do descricionismo para, por exemplo, pintar o paisagismo que lhe vai na alma.

Por que deixar as palavras engavetadas a sete, ou quem sabe, talvez, dez chaves? Tiremo-las dos baús em que se encontram, para que a arte da prolixidade seja perpetuada por nosass teclas, por nossos pincéis e pelas mentes brilhantes dos verdadeiros e excêntricos prolixos!

(Carol)

De surtar, né? passei pela mesma experiência, logo tive que partilhar este momento com meus dignissimos leitores u_u hauhauhauah

À nós, bons entendedores que acreditam que meia palavra basta, e que por vez ou outra somos bombardeados pela necessidade que outro possui em divulgar suas célebres capacidades pseudo intelectuais.

Como diz a santa Dercy Gonçalves:

"Eu não falo palavrão; só mando tomar no cu"

Linda ela...





quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

"Adoro ornar o adro dela
ode no altar de ouro
toda hora curtindo o andor
deusa do meu som
ardor sem dor
é esse ar que Santa Cecília dá
aurora pra ti, meu amor
Dorival e o mar
Luz em flor
Jardim de Alah
Vai virar um belo dia"

Saramago e a Cegueira

-O medo cega... são palavras certas, já éramos cegos no momento em que cegámos, o medo nos cegou, o medo nos fará continuar cegos.

-Alguns irão odiar-te por veres, não creias que a cegueira nos tornou melhores, Também não nos tornou piores.

-A cegueira também é isto, viver num mundo onde se tenha acabado a esperança.

-Mas quando a aflição aperta, quando o corpo se nos desmanda de dor e angústia, então é que se vê o animalzinho que somos.

-Dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos.

-É que vocês não sabem, não o podem saber, o que é ter olhos num mundo de cegos.


Trailer do Filme Ensaio Sobre a Cegueira (chorei no fim, prontofalei ¬¬)


terça-feira, 27 de janeiro de 2009

No som do bolero dancei
Uma dança lânguida que acompanhava a morte das estrelas
Enquanto danço aquele bêbado da esquina ri de mim
Uma risada compulsiva, louca
Porém livre
E nessa dança, nesse rodopio, movido ao efeito do álcool
Lembrando de ti, nesta serena noite
Tropeço e, ao cair,
Me aconchego em seu perfume.

(Alexandre Alves, numa noite sóbria de janeiro)



O amor acompanhado de uma fragilizada frustração são misturados aos retalhos de cetim que Benito de Paula joga em sua canção.

Retalhos de Cetim

Composição: Benito di Paula

Ensaiei meu samba o ano inteiro,
Comprei surdo e tamborim.
Gastei tudo em fantasia,
Era só o que eu queria.
E ela jurou desfilar pra mim,
Minha escola estava tão bonita.
Era tudo o que eu queria ver,
Em retalhos de cetim.
Eu dormi o ano inteiro,
E ela jurou desfilar pra mim.
Mas chegou o carnaval,
E ela não desfilou,
Eu chorei na avenida, eu chorei.
Não pensei que mentia a cabrocha,que eu tanto amei.

Casuarina - Retalhos de Cetim


segunda-feira, 26 de janeiro de 2009


Ontem um amigo leu alguns textos do meu blog e me perguntou o por quê que não postar coisas do meu dia a dia... Errr, então tá:

Segunda-Feira, 26 de janeiro de 2009 (puta merda, pra que a data se o blog faz questão de registrá-la?)

>Bom, mais uma vez acordo e percebo que estou vivo, experiência clichê, mais uma que futiliza o fato de viver...

>Lânguidamente vou ao banheiro e tomo banho; enquanto a água cai em meu corpo, inicio um roteiro de pensamentos acerca da limpeza da alma (e ela continua meio que sujinha).

>Tomo café, normal, mas ainda continuo com fome. Como mais dois pães e constato que realmente não engordo de "ruindade".

>Me frustro com o fato de que aquele céu azul que aparecera no céu covardemente deu lugar ao céu negro e sua chuva mórbida (sou o único ser que odeia o barulho da chuva?)

>Me arrumo e inicio minhas atividades, dentre elas minha batalha em interagir com alguns seres interagíveis, mas tudo bem, pois me ensinaram que o mundo é sociável e que um sorriso te livra de tormentos (sei rir quando não quero)

[hã? é pra continuar?]

Bem, conversei com alguns amigos, fiquei em casa num estágio como domestico, pois minha mãe está em sua fase de turista (vida boa, fato)...
Finalizo dizendo que meu dia ainda não acabou, mas sei que amanhã terei algumas situações semelhantes. Velha rotina...

(Pronto Zé, aguardo seu desejo de me empalar depois dessa kkkkkkkkkkkk)

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009


Dei as mão à palmatória,
para esconder os estigmas que nelas se encontram ...



Alturas de Macchu Picchu
Suba o nascer comigo, irmão
Dê-me a mão desde a profunda
zona de tua dor disseminada.

Não voltarás do fundo das pedras.
Não voltarás do tempo subterrâneo.
Não voltará tua voz endurecida
Não voltarão teus olhos furados.

Olhe-me do fundo da terra,
lavrador, tecelão, pastor calado:
domador de lhamas tutelares:
pedreiro de andaime desafiado:

Ajudante dos pavores andinos:
Joalheiro dos dedos machucados:
Agricultor trepidando na semente:
Oleiro em teu barro derramado:

Traga o cálice desta nova vida
Vossas velhas dores enterradas
Mostra-me vosso sangue e vosso sulco
diga-me: aqui fui castigado,

porque a jóia não brilhou ou a terra
não entregou a tempo a pedra ou o grão
assinala-me a pedra em que caístes
e a madeira em que o crucificaram,

inflama-me as velhas pedras,
as velhas lâmpadas, a violenta chibata
através de séculos nas chagas
e os castiçais de brilho ensangüentado

Eu venho falar por vossa boca morta.
Através da terra junte todos
os silenciosos lábios derramados
e do fundo fale-me toda esta longa noite

como se eu estivesse com vós ancorado
conte-me tudo, pouco a pouco,
dado a dado, passo a passo.

Afie as lâminas que guardastes,
coloque-as em meu peito e em minha mão,
como um rio de raios amarelos,
como um rio de tigres enterrados,

e deixe-me chorar, horas, dias, anos,
idades alucinadas, séculos estrelares.
Dê-me o silêncio, a água, a esperança.
Dê-me a luta, os ferros, os vulcões.

Grude os corpos como ímãs.
Ajude meu corpo e a minha boca.
Fale por minhas palavras e por meu sangue.

Pablo Neruda