quinta-feira, 24 de maio de 2007

Anjos empurrados

Saindo do cursinho, costumamos comentar determinados assuntos abordados pelos professores na sala de aula. Nesse dia, foi acerca da redução da maioridade penal, devido à morte de João Hélio, já esquecido por muitos, porque a mídia está interessada em alienar a massa com dores novas.
O que gerou polêmica em nossos comentários foi o fato de dizer que não sou a favor deste processo de redução. Não sou mesmo.
A dor é justificável. Não sou indiferente ao fato; porém João Hélio foi o abrir de vários olhos diante da realidade brasileira, dividida em dois grupos: os que defendem a formação de mais criminosos nas cadeias e os que, chamados de utópicos, crêem na mudança.
Infelizmente João Hélio não é o único a ser dilacerado neste mundo. Muitas crianças perdem sua dignidade todos os dias: Não são "demônios", anjos caídos como a mídia burguesa rotulam: são anjos empurrados pelo sistema que busca o extermínio da massa que a cada dia sofre e não vê alternativas a não ser reduzir-se ao erro.
Quero deixar claro que isso não são palavras de um cara que vive iludido com uma utopia; tenho os meus erros, pois sou atingido pelo preconceito. Um exemplo prático foi um certo dia em que me deparei com dois "pivetes" cheirando cola vindo em minha direção. Imediatamente tomei o outro lado da rua. Sei, parece hipocrisia, mas o desejo de escrever este texto é para que o Alexandre que vive em mim entre em sincronia com o que desejo.
Vimos João Hélio, mas e os outros? Onde estão estes que sofrem? Onde estão as crianças que são estupradas pelos próprios pais, vendidas à prostituição? Não vamos encontrá-las nas televisões; estes estão ocupadas com a propagação do bem-estar individual, como que um ópio. Encontraremos estes anjos na sua realidade, escondidos, isolados por muros ideológicos, políticos, religiosos.
Bom, após este texto eu descobri que todos nós naquela noite estávamos enchendo lingüiça, conversando idéias já ultrapassadas, e eu discordando com o fato: A redução da maioridade penal já aconteceu. Os anjos caíram. Perderam sua inocência.

quarta-feira, 23 de maio de 2007

Um papa que a Globo não mostrou

O Papa que a Globo não mostrou Noticia um pouco atrasada, mas todo dia é dia...

José Carlos Peixoto Jr.

A cobertura da Rede Globo acerca da visita do Papa Bento XVI ao Brasil se apresentou como um festival de panegíricos e loas à figura do sumo pontífice, e mais nada. As vozes discordantes foram completamente ignoradas enquanto a Vênus Platinada procurava fazer crer aos telespectadores que Ratzinger reunia um número de fiéis bastante superior ao que de fato se registrara nos eventos. Na missa de Aparecida, por exemplo, a emissora informara de véspera que estariam reunidas 500 mil pessoas, mas no dia apenas 150 mil estiveram presentes. Todavia, o oba oba global lhe rendeu bons frutos, já que sua audiência média, com a cobertura, atingiu a marca dos 75%. E esse era o intento com tantos salamaleques a Bento XVI.A pauta se limitou ao show. Fatos como a recusa da agenda do Vaticano em receber as lideranças indígenas, mediante a gestão do Conselho Missionário Indigenista (Cimi), órgão ligado à própria Igreja Católica, não foram noticiados. O Cimi tem predominância de sacerdotes que militam na corrente da Teologia da Libertação, que Ratzinger reprime peremptoriamente.A Globo também não noticiou nenhuma das mobilizações ocorridas no país que questionaram a visita do Papa. Os protestos dos movimentos gays, dos padres casados e de vários movimentos sociais simplesmente foram desconhecidos. Enquanto isso, se alimentou a ilha do irreal, na qual o país viveu dias de “profunda fé”, com jovens sorridentes nas ruas de São Paulo que se regozijavam ante a presença do sumo pontífice.Quanto ao lado político do fato, a emissora dos Marinhos destacou o paradoxal discurso de Ratzinger na abertura da Quinta Conferência do Episcopado Latino-Americano e do Caribe (Celam), onde a verve direitista de Bento XVI atacou os “regimes autoritários” das Américas numa clara alusão à Venezuela, Bolívia e Cuba. É como se o discurso tivesse sido tirado da boca da própria emissora.No entanto, nenhuma fonte foi ouvida para avaliar as exigências descabidas do Papa ao Estado brasileiro, como tornar obrigatório o ensino religioso e isentar a Igreja de ações na Justiça, inclusive trabalhistas. Se pudesse, Ratzinger reeditaria as concordatas de 1929, quando o Vaticano colocou diversas nações européias de joelhos e o ditador fascista italiano Benito Mussolini foi considerado como um “enviado da Providência Divina” pelo Papa Pio XII.A cobertura foi finalizada no domingo, no Fantástico, com um imenso festival de câmaras que captaram os mais variados momentos dos encontros de Bento XVI com os fiéis. Personagens foram acompanhados para ver o Papa dando destaque à fé dos mesmos. E, no fechamento, a voz da repórter Ilze Scamparini informou que Ratzinger voltaria feliz para Roma após ter provado as frutas e os sucos da terra. Enfim, muito pouca coisa se salvou dessa cobertura pífia e que apenas visou atingir massas de desinformados sujeitos à manipulação mediante o apelo de uma fé encomendada pelos interesses de empresas e instituições.