sexta-feira, 14 de março de 2008

Shadow não conseguia decidir se estava olhando para a lua do tamanho de uma moeda, a 30 centímetros de sua cabeça, ou se estava olhando para uma lua do tamanho do Oceano Pacífico, a milhares de quilômetros de distância. Nem se havia alguma diferença entre as duas idéias. Talvez tudo fosse uma questão de como encarar o assunto.
Ele olhou para o caminho bifurcado à sua frente.
- Que caminho devo escolher? Qual deles é seguro?
- Escolha um, e você não vai poder escolher o outro. Mas nenhum deles é seguro. Que caminho você percorreria... o das verdades duras ou o das boas mentiras?
- O das verdades. Eu já cheguei longe demais pra querer mais mentiras. Ela parecia triste.
- Você vai ter que pagar um preço, então.
- Eu pago. O preço que for.
- Seu nome - ela disse. - Seu nome verdadeiro. Vai ter que entregar pra mim.
- Como?
- Assim - ela disse.
Esticou uma das mãos em direção à sua cabeça. Ele sentiu seus dedos aca­riciarem sua pele, depois os sentiu penetrar seu corpo, sua caveira, sentiu-os entrando bem no fundo da cabeça. Sentiu cócegas dentro da cabeça e pela espi­nha. Ela tirou a mão. Uma chama, como a chama de uma vela, mas queimando com um branco de magnésio claro, cintilava na ponta do seu indicador.
- Isso aí é o meu nome? - ele perguntou. Ela fechou a mão, e a luz se apagou.
-Era.

quarta-feira, 12 de março de 2008

quinta-feira, 6 de março de 2008

Vestiram a arte> Puritanismo barato


Fanático por charges, me indignei acerca da falta de vergonha que o fotolog.com, descaradamente, aplicou uma censura contra os desenhos do artista Tulio Carapiá, postados neste site. Segundo eles, tratavam de imagens de conteúdo erótico, que deviam ser tirados do ar.

Em entrevista ao Caderno Dez, do Jornal A Tarde ele manifesta sua indignação:


"Eu não recebi nenhum comunicado. No outro dia estava fora do ar", conta Túlio. "Eu acho que foi por causa desse desenho, na verdade tenho certeza. Eles tiram do ar sem avisar, apagam tudo e pronto. E o desenho nao precisa ser pornográfico. Achei o meu bem tranquilo", completa.


Esta não é a primeira vez que eles armam este ataque contra artes "pornográficas". Vítimas, como Nei Lima, Geraldo Roberto, dentre outros, foram alvos de uma censura cara- de- pau.


"Antigamente eles eram mais maleáveis, muito mais maleáveis, na verdade. Mas agora estão vinculados ao google, ai... a coisa ficou meio estranha, eles cortam fora mesmo", reclama Túlio.


Aí fica o esclarecimento: até que ponto a liberdade em expressar sua arte e opiniões é garantida? A arte é "digna" de censura? Até que ponto posso escrever, até que assunto?

Enquanto escrevo, penso em um plano B, só por precaução, caso seja mais um perseguido pela "liberdade de expressão"; liberdade que é tirada como se tira um doce de uma criança.





Essas mãos> Eu e a divindade fabricada e descontrolada> fé e algo mais que mãos estendidas


As mãos que tentam alcançar algo indolor.


Algo abstrato, inexistente, mas que para amenizar a dor das inumeras perdas, cria- se um mundo onde a fé é valida e concreta.


Fé... o que é basicamente um estado de fé?

Associamos esse nome a um emaranhado de situações nas quais o ser humano dá espaço pra suas divindades. Sim, divindades; deuses criados por nós, e por acabar perdendo o controle perante sua criação, atribuímos a eles a superioridade acima de nossa condição frágil.


Encaixamos nesses deuses aquilo que gostaríamos de ser. Nossos desejos de viver eternamente, nossos vícios de acharmos que é melhor viver sem erros. O Deus Todo- Poderoso, possuidor de todos os direitos em LETRAS MAIÚSCULAS.


E as mãos continuam a clamar ao desconhecido por um socorro.


Talvez por não concordar que é capaz de virar as páginas de sua vida sozinho. Por não querer aceitar que seus milagres são constituídos por seus próprios esforços. E este medo deriva da consciência de que para realizar milagres é necessario derramar suor, e derramar suor para muitos é maldição, castigo que Deus deu a Adão por este preferir ser livre e pecador a ser imortal, apático e submisso às suas verdades pré- fabricadas. Adão alcançou sua fé. Se libertou; despencou suas mãos, antes atadas, e continuou sua história. Uma história misturada a sangue e suor; a dores, alegrias e prazeres. Filhos, netos, bisnetos e mais despesas. Mas era sua vida, só sua e de mais nenhum deus.


Bom, para alguns este texto pode soar como lamentações de um pobre coitado que perdeu sua fé fraca; talvez uma fé solúvel. Para outros, é mais um texto que revela quem eu realmente sou, depois de aprender com os erros, meus amigos erros. Para mim, é algo que boto pra fora e me dá mais fé. A fé que sempre sonhei e que agora me revelam que tudo depende de minhas mãos que, antes elevadas na maior das necessidades, estão agora despencadas em direção ao chão firme e quente.


E as mãos continuam clamando.

quarta-feira, 5 de março de 2008

Grande Humberto


Crônica


Já não passa nenhum carro por aqui

Já não passa nenhum filme na tv

Você enrola outro cigarro por aí

e não dá bola pro que vai acontecer

mais um pouco e mais um século termina

mais um louco pede troco na esquina

tudo isso já faz parte da rotina

e a rotina já faz parte de você

você que tem idéias tão modernas

é o mesmo homem que vivia nas cavernas

todo mundo já tomou a coca-cola

a coca-cola já tomou conta da china

todo cara luta por uma menina

e a palestina luta pra sobreviver

a cidade, cada vez mais violenta(tipo chicago nos anos quarenta)

e você, cada vez mais violento

no seu apartamento ninguém fala com você

você que tem idéias tão modernas

é o mesmo homem que vivia nas cavernas.

Velho Chico


Quem me vê sempre parado, distante garante que eu não sei sambar
Tô me guardando pra quando o carnaval chegar

Eu tô só vendo, sabendo, sentindo, escutando e não posso falar
Tô me guardando pra quando o carnaval chegar

Eu vejo as pernas de louça da moça que passa e não posso pegar
Há quanto tempo desejo seu beijo molhado de maracujá
Tô me guardando pra quando o carnaval chegar

E quem me ofende, humilhando, pisando, pensando que eu vou aturar
E quem me vê apanhando da vida duvida que eu vá revidar
Tô me guardando pra quando o carnaval chegar

Eu vejo a barra do dia surgindo, pedindo pra gente cantar
Eu tenho tanta alegria, adiada, abafada, quem dera gritar
Tô me guardando pra quando o carnaval chegar...

terça-feira, 4 de março de 2008

O ovo e a galinha, a galinha do seu ovo, o ovo que come a galinha, etc... Clarice e Aristóteles endoidam um...


"Ver o ovo é impossível: o ovo é supervisível como há sons supersônicos. Ninguém é capaz de ver o ovo. O cão vê o ovo? Só as máquinas vêem o ovo. O guindaste vê o ovo. – Quando eu era antiga um ovo pousou no meu ombro. – O amor pelo ovo também não se sente. O amor pelo ovo é supersensível. A gente não sabe que ama o ovo. – Quando eu era antiga fui depositária do ovo e caminhei de leve para não entornar o silêncio do ovo. Quando morri, tiraram de mim o ovo com cuidado. Ainda estava vivo. – Só quem visse o mundo veria o ovo. Como o mundo o ovo é óbvio."


Vai saber o que Clarice LInspector quis dizer com este texto que foi minha tormenta para os estudos pré- vestibulares.


Quem nasceu primeiro: o ovo ou a galinha?
Acredito que este seja um dos questionamentos mais paradigmáticos dos nossos tempos, a mãe de todas as especulações.
Segundo Aristóteles, a galinha tem primazia sobre o ovo. A origem desta radical tomada de posição aristotélica em favor da galinha acha-se na distinção do ser em potência e ato, íntima de Aristóteles. Entre o ser em estado acabado, o ser em ato, e o puro não-ser, tende-se a um intermediário, o ser em potência, que já pertence ao real sem estar ainda perfeitamente realizado. As mudanças e movimentos explicam-se dizendo que são a passagem do ser em potência ao ser em ato. Portanto, a galinha é anterior ao ovo.
Eu, infelizmente, preciso discordar do meu caro amigo Aristóteles. Na minha opinião, o ovo é anterior à galinha.
E a minha explicação é bem mais simples: na era dos dinossauros já existiam ovos. E nada de galinhas.
Mas, para manter viva esta especulação milenar, sugiro que, a partir de hoje, o questionamento seja reformulado para:
“Quem nasceu primeiro: o ovo DA GALINHA ou a galinha?
Aí são outros 500...

O ovo e a galinha, a galinha do seu ovo, o ovo que come a galinha, etc...

Quem nasceu primeiro: o ovo ou a galinha?
Acredito que este seja um dos questionamentos mais paradigmáticos dos nossos tempos, a mãe de todas as especulações.
Segundo Aristóteles, a galinha tem primazia sobre o ovo. A origem desta radical tomada de posição aristotélica em favor da galinha acha-se na distinção do ser em potência e ato, íntima de Aristóteles. Entre o ser em estado acabado, o ser em ato, e o puro não-ser, tende-se a um intermediário, o ser em potência, que já pertence ao real sem estar ainda perfeitamente realizado. As mudanças e movimentos explicam-se dizendo que são a passagem do ser em potência ao ser em ato. Portanto, a galinha é anterior ao ovo.
Eu, infelizmente, preciso discordar do meu caro amigo Aristóteles. Na minha opinião, o ovo é anterior à galinha.
E a minha explicação é bem mais simples: na era dos dinossauros já existiam ovos. E nada de galinhas.
Mas, para manter viva esta especulação milenar, sugiro que, a partir de hoje, o questionamento seja reformulado para:
“Quem nasceu primeiro: o ovo DA GALINHA ou a galinha?‿.
Aí são outros 500...