segunda-feira, 25 de julho de 2011

"E ser artista no nosso convívio
Pelo inferno e céu de todo dia
Pra poesia que a gente nem vive
Transformar o tédio em melodia..."



domingo, 24 de julho de 2011

Onde Alan Ball quer chegar com True blood?


Onde Alan Ball quer chegar com True blood?

Tudo começou com um roteiro que se passa numa cidade fictícia chamada Bon Temps. Uma garota, indefesa e sexy garçonete, conhece um vampiro. Ambos se apaixonam. A relação entre humanos e vampiros é “próxima”, tanto quanto normal. Os seres das trevas subestituem o sangue humano por um sangue sintético, intitulado True Blood. Este roteiro é o que segue a primeira temporada: Uma garota que se apaixona por um vampiro; um clichê que se apoderou das obras cinematográficas e das séries de tvs atuais, e True Blood não seria diferente. Ledo engano.

Conforme a série vai prosseguindo, deparamos com outros seres: deusas, lobisomens, metamorfos... A quarta temporada, que está em produção no exato momento, nos remete a um mundo de fadas e bruxas, completando as classes de seres “mágicos” presentes no mundo humano, atormentando a paz da cidade pequena de Bom Temps. As brincadeiras feitas diante da série e do roteiro visto como fantasioso por excelência são inúmeras.

Contudo, lembremos da série Six Feet Under (A sete palmos), outra série produzida por Alan Ball: possui uma qualidade insuperalmente maior que True Blood, onde os personagens viviam sufocados em seus dramas e medos; alguns personagens amadurecidos e outros em caminhada ao amadurecimento. O Alan Ball trazia na trama a maneira como a família protagonista lidava com a morte, e o que ela representava a cada personagem. O produtor trazia consigo a morte como algo comum no cotidiano daqueles que a tem como outro membro da família.

True blood é diferente; a história gira em torno de uma única personagem, onde todos desejam (sexualmente falando) a sua vida. Passou três temporadas dando a sua vida em nome do amor que sentia pelo vampiro Bill, e se descobre dotada de um “dom”... porém, essa mistura de seres fantasiosos ainda é uma indagação. Queria o Alan Ball trazer um Conto de fadas contemporâneo, mais adulto, mais erótico e sangrento?

Talvez seja em cima disso que o produtor queira trabalhar. Na minha opinião, esta deveria ser a última temporada da série de Sookie e os duendes, ops! True Blood, que está indo em direção à fantasiosa comédia recheada de frutas de luz, fadas e coisinhas mágicas nada cativantes.

sábado, 23 de julho de 2011

#Nowplaying: The Feeling - Set My World On Fire


You set my world on fire
I love you more every day
You can run you can run but don't stay long
I love you more every day

Um andarilho

De passo em passo, troca pensamentos com o asfalto. Caminha lentamente, ao passo que sua idade e juventude correm de acordo com o que a vida rouba de si.

É na vida que ele pensa, e não nas toturas que o solado de seu sapato sofre. "Foram fabricados para sofrer meu peso e o calor do asfalto. Pra que reclamar?" - Era a sua justificativa.

Passa por estradas desertas e não encontra ninguém; cruza pequenas casas, e rejeita companhia. Ele quer o sentimento de quem opta em levar a vida com sua própria força, mas acaba ouvindo vozes ao fundo, entre cochiços, que o arranca do pedestal de um herói: "Pobrezinho, não suportará as cruzes da maturidade." Faz amizades, para matar o tempo; Sente a felicidade das crianças e de seus jogos em coletivo.

Mas aquele não é o seu lar.

Ele mora sozinho. E na estrada.




segunda-feira, 18 de julho de 2011

If: Da castração escolar à rebeldia de 68.


As grandes escolas foram construídas como um ambiente que proporcionasse a formação do sujeito por excelência, vislumbrando a construção de um homem intelectual e cumpridor dos bons costumes. Mais conhecidas como academias, estas foram destinadas aos filhos de famílias tradicionais burguesas e mantinham-se estruturadas numa educação tradicional, onde o professor era o portador do conhecimento que seria passado ao aluno por meio da repetição dos conteúdos, além do ensino voltado à moral e aos valores cristãos, onde os alunos eram submetidos à disciplina e sujeitos a punições, caso violassem a boa conduta imposta na instituição. Tais características serviram para a construção do roteiro do filme “If...”: provocante e subversiva obra, a qual foi produzida na efervescência cultural e política de 1968, e dirigido por Lindsay Anderson.

Vencedor de prêmios, “If...” é uma obra que retrata a era da rebeldia em que a juventude vivenciava no fim da década de 60, onde acreditavam na revolução cultural e rompendo com as estruturas sociais mantidas pelos regimes de opressão moralista e burguesa. No filme, o roteiro parte do espírito subversivo dentro dos muros de uma conceituada escola privada britânica que sempre se manteve alicerçada na manutenção do tradicionalismo, na moral, na educação amparada pela doutrina cristã, e pela predominância do poderio da classe burguesa. A hierarquia é mostrada neste filme, e é presente entre os próprios alunos onde aqueles que são escolhidos como monitores – geralmente os mais velhos – são encarregados de manter a ordem na escola, reprimindo os seus colegas; possuem os alunos mais novos como subordinados e estes, por outro lado, são dispostos a servir a seus superiores, sendo punidos caso cometam qualquer ato de desobediência.

O primeiro plano de “If...” é uma passagem bíblica de Provérbios, 7:4, que possui o seguinte escrito: “A sabedoria é a coisa principal; adquire, pois, a sabedoria; sim, com tudo que possuis, adquire o conhecimento”. Logo a seguir, há um corte onde já mostra a escola vista de fora, em plano largo, acompanhada de um canto gregoriano e intercalado por risadas eufóricas de crianças, finalizando com um longo silêncio. Lindsay Anderson pontua sempre no filme a predominância da doutrina cristã e a disciplina austera e silenciosa como metodologia para alcançar a sabedoria. Outro destaque do diretor são as repletas pinturas de filósofos nos corredores da escola e em salas de aula, e as ações repressivas e moralistas dos superiores para com os alunos, revelando uma contradição entre o desejo pelo conhecimento no campo das idéias e a manutenção do conservadorismo em prol dos bons costumes, na prática. Anderson procurou, ainda mais, dividir o filme em capítulos onde cada título é uma palavra-chave às características da escola e suas respectivas doutrinas.

O roteiro assemelha-se a filmes anteriores, como Os incompreendidos (França, 1959), que também traz uma escola que mantém um currículo tradicional, predominando a disciplina e a punição dos alunos rebeldes como forma de ensinar-lhes o caminho da moral e do saber. O sistema repressivo dentro do espaço escolar é evidente dentro dos filmes de Truffaut e Anderson, e esta repressão era justificada como uma educação para o homem de bem. Os dois diretores, também, se preocupavam em revelar esta educação ameaçada por seus protagonistas que iam de encontro a esta estrutura vigente. Em “If...”, o movimento rebelde dentro da instituição é liderado por Travis (personagem que revela o ator Malcolm McDowell, que mais tarde estrela em Laranja Mecânica), que considera a estrutura repressora da Academia como a verdadeira inimiga. O protagonista, junto aos seus companheiros, cria um espaço alternativo dentro da escola de elite: enquanto a escola é cercada por pinturas de homens inalcançáveis, o quarto de Travis é rodeado por imagens de homens que foram protagonistas de um cenário revolucionário. Para o protagonista “a violência e a revolução são os únicos atos puros.” Enquanto a escola possui um currículo em que predomina o preenchimento do aluno pela reprodução de conteúdos do professor, os rebeldes se educam com discursos revolucionários, sobre a quebra da moral e hipocrisia e discursos sobre a vida e a morte.

Durante toda sua narrativa “If...” denuncia um sistema escolar repressor e implacável, visando uma reprodução de um sistema dominante fora dos muros da escola. A didática de ensino, a metodologia moralista e a castração do livre pensamento partiam do pensamento dominante da época em que a história era narrada; dentro dos muros da escola, o aluno era adestrado a ser um receptor, a cumprir tarefas em horas contadas; não se considerava a diversidade do sujeito, seus desejos, sua sexualidade; esta, inclusive era um fator presente nos monitores que cobiçavam os seus subordinados, na maioria das vezes calouros que estavam adentrando nos primeiros anos da adolescência. Em “If...” a escola, reproduzindo o modelo social predominante, sufoca o aluno, desconhece suas necessidades, suas carências, não ampara as suas angústias; ao contrário: pune, castiga, reprime. Esta ausência de amparo e de uma válvula de escape é o estopim para o despertar de uma revolta, por parte dos subversivos, levando o sujeito a voltar-se contra a instituição em que se encontra.

“If...”, então, foi um trabalho ousado de um Anderson, como diretor, entregue à efervescência cultural de 68, antecipando o momento revolucionário. O roteiro produzido por David Sherwin e John possui a coragem de abrir as portas do sistema educacional da época, e os instrumentos que impediam a verdadeira emancipação do homem por meio do conhecimento. O filme denuncia a instituição que mantém a educação e manutenção da classe burguesa e enaltece uma minoria que sai desta classe e se torna sua inimiga. “If...” é, sem dúvida, um manifesto de denúncia contra um sistema que reprime a educação e emancipação do ser humano.

Ficha:

• Título Original: If…
• Direção: Lindsay Anderson
• Roteiro: David Sherwin, John Howlett
• Gênero: Drama
• Origem: Inglaterra
• Duração: 111 minutos
• Cor: Colorido

Trailer: