quarta-feira, 23 de maio de 2007

Um papa que a Globo não mostrou

O Papa que a Globo não mostrou Noticia um pouco atrasada, mas todo dia é dia...

José Carlos Peixoto Jr.

A cobertura da Rede Globo acerca da visita do Papa Bento XVI ao Brasil se apresentou como um festival de panegíricos e loas à figura do sumo pontífice, e mais nada. As vozes discordantes foram completamente ignoradas enquanto a Vênus Platinada procurava fazer crer aos telespectadores que Ratzinger reunia um número de fiéis bastante superior ao que de fato se registrara nos eventos. Na missa de Aparecida, por exemplo, a emissora informara de véspera que estariam reunidas 500 mil pessoas, mas no dia apenas 150 mil estiveram presentes. Todavia, o oba oba global lhe rendeu bons frutos, já que sua audiência média, com a cobertura, atingiu a marca dos 75%. E esse era o intento com tantos salamaleques a Bento XVI.A pauta se limitou ao show. Fatos como a recusa da agenda do Vaticano em receber as lideranças indígenas, mediante a gestão do Conselho Missionário Indigenista (Cimi), órgão ligado à própria Igreja Católica, não foram noticiados. O Cimi tem predominância de sacerdotes que militam na corrente da Teologia da Libertação, que Ratzinger reprime peremptoriamente.A Globo também não noticiou nenhuma das mobilizações ocorridas no país que questionaram a visita do Papa. Os protestos dos movimentos gays, dos padres casados e de vários movimentos sociais simplesmente foram desconhecidos. Enquanto isso, se alimentou a ilha do irreal, na qual o país viveu dias de “profunda fé”, com jovens sorridentes nas ruas de São Paulo que se regozijavam ante a presença do sumo pontífice.Quanto ao lado político do fato, a emissora dos Marinhos destacou o paradoxal discurso de Ratzinger na abertura da Quinta Conferência do Episcopado Latino-Americano e do Caribe (Celam), onde a verve direitista de Bento XVI atacou os “regimes autoritários” das Américas numa clara alusão à Venezuela, Bolívia e Cuba. É como se o discurso tivesse sido tirado da boca da própria emissora.No entanto, nenhuma fonte foi ouvida para avaliar as exigências descabidas do Papa ao Estado brasileiro, como tornar obrigatório o ensino religioso e isentar a Igreja de ações na Justiça, inclusive trabalhistas. Se pudesse, Ratzinger reeditaria as concordatas de 1929, quando o Vaticano colocou diversas nações européias de joelhos e o ditador fascista italiano Benito Mussolini foi considerado como um “enviado da Providência Divina” pelo Papa Pio XII.A cobertura foi finalizada no domingo, no Fantástico, com um imenso festival de câmaras que captaram os mais variados momentos dos encontros de Bento XVI com os fiéis. Personagens foram acompanhados para ver o Papa dando destaque à fé dos mesmos. E, no fechamento, a voz da repórter Ilze Scamparini informou que Ratzinger voltaria feliz para Roma após ter provado as frutas e os sucos da terra. Enfim, muito pouca coisa se salvou dessa cobertura pífia e que apenas visou atingir massas de desinformados sujeitos à manipulação mediante o apelo de uma fé encomendada pelos interesses de empresas e instituições.

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