sábado, 5 de dezembro de 2009

Um poema para meu sonho

Alturas de Macchu Picchu
Suba o nascer comigo, irmão
Dê-me a mão desde a profunda
zona de tua dor disseminada.

Não voltarás do fundo das pedras.
Não voltarás do tempo subterrâneo.
Não voltará tua voz endurecida
Não voltarão teus olhos furados.

Olhe-me do fundo da terra,
lavrador, tecelão, pastor calado:
domador de lhamas tutelares:
pedreiro de andaime desafiado:

Ajudante dos pavores andinos:
Joalheiro dos dedos machucados:
Agricultor trepidando na semente:
Oleiro em teu barro derramado:

Traga o cálice desta nova vida
Vossas velhas dores enterradas
Mostra-me vosso sangue e vosso sulco
diga-me: aqui fui castigado,

porque a jóia não brilhou ou a terra
não entregou a tempo a pedra ou o grão
assinala-me a pedra em que caístes
e a madeira em que o crucificaram,

inflama-me as velhas pedras,
as velhas lâmpadas, a violenta chibata
através de séculos nas chagas
e os castiçais de brilho ensangüentado

Eu venho falar por vossa boca morta.
Através da terra junte todos
os silenciosos lábios derramados
e do fundo fale-me toda esta longa noite

como se eu estivesse com vós ancorado
conte-me tudo, pouco a pouco,
dado a dado, passo a passo.

Afie as lâminas que guardastes,
coloque-as em meu peito e em minha mão,
como um rio de raios amarelos,
como um rio de tigres enterrados,

e deixe-me chorar, horas, dias, anos,
idades alucinadas, séculos estrelares.
Dê-me o silêncio, a água, a esperança.
Dê-me a luta, os ferros, os vulcões.

Grude os corpos como ímãs.
Ajude meu corpo e a minha boca.
Fale por minhas palavras e por meu sangue.

- Pablo Neruda

A seguir, um vídeo de Macchu Pichu, feito pela galera do brasildemochila.com, com a música Condor Pasa, na versão da banda de Cusco Tupananchiskam:




Um comentário:

Clédson Miranda disse...

Machu Picchu é um sonho, Xanddy! Tava precisando de um roteiro para a minha próxima viagem... esse vídeo me deu uma idéia!

Abraço,
Clédson