terça-feira, 3 de janeiro de 2012

A separação (Jodaeiye Nader az Simin)


O cinema iraniano revela mais uma vez o que eles sabem fazer em termos de cinema. A separação é a prova de um trabalho belíssimo dirigido por Asghar Farhadi (À procura de Elly).

O filme gira em torno do trama do casal Naader e Simin que, na primeira sequência do filme, se encontram diante do juiz para se tratar de um divórcio. O motivo: a esposa pretende fazer uma viagem ao exterior, enquanto o marido se encontra preso aos cuidar de seu pai, que sofre de Alzheimer em fase evoluida. Naader não se exita em conceder a separação à Simin, indo de encontro à radical postura machista predominante do país, mas não abre mão da guarda da filha que também prefere conviver com o pai.

Diante da separação, Naader se encontra na necessidade de contratar alguém que cuide de seu pai durante sua ausência. Contrata então uma diarista, uma mulher religiosa e fiel aos princípios de sua crença, que encontra resistência em algumas atividades a ela destinadas (como limpar o pai do Naader, em momentos de necessidade). O drama sobre o qual o filme se debruça, e provoca ao espectador a experiência em observar os personagens
que vivem no mundo do filme, se constrói na relação entre a diarista e seu contratante que, num dado momento, entra em conflito; um dos motivos é o fato de Razieh amarrar o braço do pai do Naader na cama, a fim de cuidar
de assuntos pessoais, mais tarde explicados pela própria. Tomado por raiva, Naader empurra a diarista, que sofre complicações em sua gestação e perde a criança. Este episódio se torna uma bola de neve para o personagem que se torna agressor e tem de prestar satisfações à polícia e ao marido agressivo de Nazieh, envolvendo todos os demais personagens que convivem consigo.

Farhadi constrói um cenário propício para inserir o espectador dentro da trama. A presença da câmera sempre na mão dá a impressão de realidade; os personagens não são de forma alguma construídos dentro do que considera maniqueísta: não há uma relação entre personagens puramente bons e maus; ambos são equilibrados entre virtudes e defeitos (inclusive a pequena menina, que brinca com o nebulizador do pai do Naader, dificultando a respiração do mesmo). Construir o personagem a partir deste perfil dá ao espectador a possibilidade de construir o pensamento de que pode acontecer com qualquer um, aproximando o filme do real, e isso foi possível graças às boas atuações do elenco, que souberam causar esta impressão através da pouca ação e da predominância de olhares e reflexões sobre "o que fazer?".

Esta construção do pensamento se estende até o fim da película, onde o fim não é dado de bandeja ao espectador. Neste aspecto, "A separação" desenvolve um caráter pedagógico, ao possibilitar ao indivíduo que o assiste o desenvolver da imagem, que continua a partir do fechar de olhos da câmera.

"A separação" é uma obra prima do Asghar Farhadi; conquistou três prêmios no Festival de Berlim, assim como pelo Online Film Critics Society 2011 (melhor filme estrangeiro), e é grande a aposta de sua indicação ao Oscar 2012.

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